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Filhotes de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção podem ter um novo salvador: ovos com GPS

17/11/2020 - Os ovos espiões ajudam a rastrear as rotas de caçadores até centenas de quilômetros de distância ↓

A cientista conservacionista Kim Williams-Guillén estava quebrando a cabeça para encontrar uma maneira de salvar tartarugas marinhas ameaçadas pela caça e coleta de ovos quando teve uma ideia: se ela colocasse um ovo falso contendo um rastreador GPS nos ninhos das tartarugas, ela poderia ser capaz de rastrear os ladrões.

A ideia rendeu-lhe um prêmio de $ 10.000 no Desafio Tecnológico do Crime de Vida Selvagem de 2015. Agora, Williams-Guillén, uma cientista conservacionista da organização ambiental sem fins lucrativos Paso Pacífico, e uma equipe multinacional de colegas não apenas fizeram o dispositivo - apelidado de InvestEGGator (EnvestigadOVO) - mas também publicaram os resultados de seu primeiro teste de campo. De 101 ovos de isca, cinco foram capazes de rastrear as rotas de caçadores de ovos a até centenas de quilômetros de distância. A abordagem “incrível” pode um dia ajudar a identificar e deter traficantes de alto escalão na cadeia de comércio, diz Héctor Barrios-Garrido, um biólogo conservacionista da Universidade de Zulia, Maracaibo, que não esteve envolvido no estudo.

Ovos de tartaruga marinha são uma iguaria culinária na América Central e alguns acreditam que podem melhorar o desempenho sexual. Todas as sete espécies de tartarugas marinhas estão listadas como ameaçadas - algumas criticamente - e os caçadores de ovos estão apenas agravando o problema. No entanto, os conservacionistas simplesmente não têm a capacidade de patrulhar continuamente as grandes praias durante a temporada de desova.

É aí que entram os ovos espiões. Para construí-los, Williams-Guillén encontrou um material plástico flexível chamado Ninjaflex que imita o exterior mole de ovos reais. Ela e seus colegas usaram uma impressora 3D para fabricar as falsificações. Finalmente, eles incorporaram os menores dispositivos de rastreamento GPS que puderam encontrar dentro de cada um. O resultado: um ovo falso do mesmo tamanho, peso e textura de um ovo de tartaruga marinha verde, uma das maiores espécies de tartaruga marinha.


 

Os pesquisadores então foram a quatro praias da Costa Rica, onde tartarugas-verdes e tartarugas-oliva vêm à costa para fazer seus ninhos. Enquanto as mães colocavam seus ovos na calada da noite, os pesquisadores colocaram um único ovo de espião em cada ninhada. Uma vez que os ovos falsos são cobertos por areia e muco dos ovos reais, "é muito difícil dizer a diferença entre os dois", diz Helen Pheasey, bióloga conservacionista da Universidade de Kent e coautora do estudo.

Dos 101 ovos implantados, 25 foram levados por caçadores furtivos. Os ladrões rapidamente descobriram seis deles e os deixaram na praia. A equipe recebeu dados de rastreamento para cinco outras iscas, três das quais estavam escondidas em ninhos de tartaruga-oliva e duas em ninhos de tartarugas-verde.

O ovo falso rastreado mais distante viajou 137 quilômetros para o interior, ela relata a equipe da revista Current Biology, parando nos fundos de um supermercado. A partir daí, deduziu Pheasey, o caçador furtivo entregou o ninho roubado a um vendedor que provavelmente vendia ovos de porta em porta. O ovo espião enviou seu sinal final no dia seguinte a partir uma propriedade residencial, sugerindo, diz ela, que a equipe de pesquisa rastreou os ovos por meio de "todos os atores de toda a cadeia".

Ao compreender essa cadeia - e ver onde os ovos roubados se juntam - Williams-Guillén diz que os pesquisadores podem identificar os pontos mais ativos de comércio. Ela enfatiza que o ovo rastreador não é uma forma de capturar os caçadores ilegais, muitos dos quais vivem na pobreza, mas sim uma ferramenta para entender melhor suas rotas. Aprender os pontos principais deste comércio pode ajudá-los - e, eventualmente, à aplicação da lei - a identificar participantes maiores da cadeia do tráfico.

Ainda assim, Barrios-Garrido observa que interromper o tráfico não é tão simples quanto entregar os dados de rastreamento às autoridades para fazer prisões. Em toda a América Central, o comércio de ovos de tartarugas marinhas pode ser legalmente ambíguo, diz ele. Na Costa Rica, por exemplo, é ilegal caçar e vender ovos de tartarugas marinhas, mas comprá-los não é crime. “Não é preto e branco.”

Nesse ínterim, Williams-Guillén e seus colegas estão trabalhando para enviar seus ovos espiões para outras organizações de conversação de tartarugas marinhas. No final das contas, porém, os cientistas e organizações sem fins lucrativos precisarão envolver as comunidades com programas locais de divulgação e educação para salvar as tartarugas marinhas, diz ela. “O verdadeiro feijão com arroz da conservação não virá da implantação de ovos espiões”

Postado em: América Latina, Plantas & Animais(doi: 10.1126 / science.abf1186)

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