21/06/2016 - Tartaruga-verde se reproduz quase que exclusivamente nas ilhas oceânicas. Leia mais. ↓
O Tamar divulgou um balanço da temporada de reprodução das tartarugas marinhas em Fernando de Noronha/PE e Trindade/ES. Os números registrados de ninhos e filhotes protegidos nos dois arquipélagos brasileiros foram menores que nos anos anteriores. A diminuição já era esperada pelos pesquisadores, considerando-se o histórico de monitoramento nas ilhas desde o início dos anos 80.
No Brasil, as tartarugas-verdes (Chelonia mydas) desovam quase exclusivamente nas ilhas oceânicas de Trindade/ES, Atol das Rocas/RN e Fernando de Noronha/PE. Existem algumas desovas esparsas ao longo do litoral, mas concentrações regulares ocorrem somente nas ilhas.
Em Fernando de Noronha, os 103 ninhos protegidos na temporada 2015/2016 indicam esta como pouco movimentada, já que no ano anterior foram protegidos 62% a mais. Cerca de 70% dos ninhos estavam na praia do Leão, principal área de desova no arquipélago. No que se refere ao número de filhotes, este ano foram levadas ao mar em segurança 4.441 tartaruguinhas, o que corresponde a 70% menos que na temporada anterior. O coordenador do Tamar Noronha, Armando Barsante explicou que esta diminuição em relação à temporada passada já era esperada, considerando-se o tempo de monitoramento na ilha, pois há épocas de abundância de desovas e outras de baixa. Mas no geral, existe uma tendência histórica de aumento: na primeira década (1984 a 1993) a média foi de 33 ninhos e na última década (2006 a 2015) a média foi de 145 ninhos, um aumento de mais de quatro vezes.
“Desde que o Tamar chegou em Noronha, em 1984, as tartarugas marinhas não foram mais alvo de atividades predatórias, e é possível que essa recuperação seja fruto dos esforços de conservação”, comenta o coordenador. Como uma tartaruga leva cerca de 30 anos para ficar adulta, as fêmeas novatas (ainda sem marcação) representam a primeira geração que cresceu sob a proteção do Projeto Tamar.
O período de desova da tartaruga-verde no país se estende de dezembro a maio, mas filhotes continuam nascendo até o final de julho. As tartarugas dessa espécie geralmente desovam a cada três anos, período conhecido como “intervalo de remigração”, que é o tempo que leva para a fêmea se deslocar até sua área de alimentação, acumular energia para produzir ovos e também para sua jornada de volta à praia onde nasceu. Para os machos, este intervalo costuma ser anual, já que suas demandas energéticas são bem menores que as das fêmeas. Como as fêmeas não vem todo ano para desovar, é natural que haja para a tartaruga-verde uma grande flutuação do número de ninhos a cada ano, geralmente apresentando um “ano de pico” a cada três temporadas.
Tartaruga-verde (Chelonia mydas)
Na ilha da Trindade, o Tamar atua desde 1982 com o fundamental apoio da Marinha do Brasil. Assim como em Fernando de Noronha, a temporada 2015/2016 pode ser considerada pouco movimentada, já que foram 1.050 ninhos protegidos, número bem menor que a média estimada de 3.600 ninhos, que em “anos de pico” extrapolou os 5 mil ninhos. A estimativa é que esse ano nasçam em Trindade cerca de 106 mil filhotes.
O número de ninhos em Trindade é estimado através de uma amostragem utilizando transectos, já que a densidade de ninhos é gigantesca, impossibilitando o acompanhamento de cada ninho, como é feito em Fernando de Noronha. Foram registradas 197 fêmeas diferentes, tendo sido marcadas 114 fêmeas pela primeira vez e 83 fêmeas remigrantes, além de 310 retornos destas mesmas tartarugas em desovas subsequentes. Além disso, explica Armando, 99 ninhos foram selecionados para serem acompanhados até a eclosão, para coleta de parâmetros de incubação, como tempo e taxa de eclosão. E mais ainda, conta o pesquisador, houve um registro inusitado, um macho de tartaruga-verde com 1,10 m de comprimento casco que encalhou na praia dos Andradas. Ele estava debilitado devido a ferimentos nas nadadeiras anteriores e cauda. O animal foi resgatado e encaminhado para tratamento que durou seis dias, sendo reintroduzido no ambiente natural quando voltou a apresentar condições normais de respiração e flutuabilidade.
Áreas de alimentação - Pouco se conhece sobre as áreas de alimentação das fêmeas que desovam nas ilhas oceânicas, mas em maio de 2016, na Bahia, foi recapturada uma fêmea que havia sido marcada desovando em Trindade em 1996. Esse registro é resultado do trabalho de captura intencional realizado na Pedra da Tartaruga, na Praia do Forte Bahia. Fêmeas adultas que desovam na Ilha da Trindade podem utilizar o litoral norte da Bahia como área de alimentação, e o caminho inverso também foi registrado, ou seja, tartarugas marcadas na Praia do Forte foram vistas na Trindade. Esses são os primeiros indícios da conexão das tartarugas-verdes que desovam em Trindade com o continente, através dos grampos marcadores, pois a genética já indicava essa conexão.
Projeto Tamar - Criado há 35 anos, o Projeto Tamar é uma soma de esforços entre a Fundação Pró-Tamar e o Centro Tamar/ICMBio. Trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). Protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 25 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Reconhecido internacionalmente como uma das mais bem sucedidas experiências de conservação marinha do mundo, seu trabalho socioambiental, desenvolvido com as comunidades costeiras, serve de modelo para outros países. O Projeto Tamar tem o patrocínio oficial da Petrobras, através do programa Petrobras Socioambiental, e nos nove estados brasileiros onde atua recebe diversos apoios locais.
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